quarta-feira, 7 de novembro de 2007

CICLOTURISMO

Mês de Julho...Naquela manhã algo me deixava inquieto, infeliz com o trabalho. Minha memória me remetia aos tempos de outrora e eu precisava organizar meus desejos...Percorrer os 600 quilômetros que separavam Fortaleza de Natal. Na bagagem levaria os 4.800 quilômetros percorridos de Natal a Florianópolis com um teatro de fantoches falando sobre a importância da higiene bucal e distribuindo escovas de dente em um período de 4 meses.


Partimos em dois no dia 01 de setembro, rumo a Fortaleza - cidade que encanta. Visitamos o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, lugar de uma infra-estrutura completa para o exercício do lazer e da arte, e que tem como objetivo democratizar o acesso à cultura, gerar novos empregos e movimentar o mercado turístico cearense.
Já na manhã seguinte, passamos pelas falésias onde o vento castigante era constante. Com um dia de pedal paramos em Canoa Quebrada, antiga vila hippie, e hoje uma cidade com sofisticadas pousadas e grandes hotéis. Point de kitesurfistas em busca de bons ventos para o aperfeiçoamento de manobras.
O município leva o título de 4º lugar no mundo para a prática do esporte. À noite, sentia-se rajadas do vento que estaria presente em toda cicloviagem.
Pedalávamos muito pela areia de praia. Às vezes, usando estradas secundárias. Os dias de sol escaldante eram freqüentes. Muita gente humilde e hospitaleira esteve no nosso cotidiano. Em trechos sem água, a solução era parar e pedir em uma das humildes casas locais, logo, os donos já eram grandes amigos e insistiam em ficarmos para almoçar.
Pude perceber que a ausência de violência em pacatas regiões aumenta a receptividade e fortalece os laços de amizade, fazendo de toda visita um motivo para festa...Mas a viagem tinha que continuar...
Deitado em uma rede - símbolo da cultura local – agradecia, mais uma vez, rever meus conceitos e estar na estrada, adquirindo um pouco da cultura caiçara e buscando a plenitude do meu ser. Neste dia, o pôr-do-sol mais bonito de toda a viagem nos foi apresentado...A felicidade e a brincadeira tomaram conta do momento, talvez, por responsabilidade da energia do Sol...
No dia 07 de setembro prendi a Bandeira na bagagem e com sentimento de nacionalismo - mesmo ciente das desigualdades sociais - tive um enorme prazer em ser brasileiro. Por todo o trecho do litoral, não houve um lugar sequer que eu tenha sido mal recebido. A receptividade do povo local sempre fora o diferencial do Brasil, ainda que a falta de estrutura algumas vezes fosse presente, o carisma desse povo simples e humilde brilhava em nossos olhos.
Mais uma vez fecharmos os alforjes e seguirmos para a estrada. A nossa frente o imponente Farol do Calcanhar - em suas cores preto e branco - é um ponto de sinalização para os barcos que singram os mares dessa região. Para nós, um monumento que traria novamente a direção leste oeste do litoral. O Farol, de responsabilidade da Marinha brasileira, é segundo maior farol do mundo. Com 62 metros de altura e 296 degraus. Não pudemos conhecê-lo, já que as visitas só são permitidas aos domingos, das 14h00min às 17h00min h.
Bola para frente, ou melhor, pé no pedal...Para encararmos as pequenas dunas e logo descemos à praia...
A nossa esperança de que os ventos melhorassem a partir dali ficou junto com o Farol. As fortes rajadas continuaram intensas. Nesta região cruzamos estradas de terra, muitas com captadores de energia eólica - grandes cata-ventos que inundam a paisagem.
Na pacata Maracajau - pequena vila de pescadores suas belezas naturais e a atmosfera tranqüila - jangadas aportadas sobre areias brancas e coqueiros à beira-mar formam cenários paradisíacos. Suas águas guardam segredos e nos convidam a mergulhos refrescantes. Os recifes de Maracajaú, chamados de Parrachos, distam cerca de 7km da praia, com profundidade que variam entre 1,0 e 4,0 metros na baixa-mar. São constituídos por formação de alga calcária que servem como substrato para diversas espécies marinhas crescerem e se reproduzirem. Podem ser encontradas quatro espécies diferentes de corais, centenas de espécies de peixes, crustáceos, moluscos, equinodermos e algas.
O último dia de viagem mostrava sinais de tranqüilidade. A cadência dos pedais pelas estradas de terra tinha um misto de saudades e sentimento de conquista. Os dez dias tinham se passado e junto com eles as belíssimas paisagens... A enorme diferença entre tudo q nos rodeia no cotidiano nos remetia de volta para casa. Sentimos a certeza de poder reaver o cotidiano na esperança de logo estarmos novamente a pedalar.


O trecho foi entre Fortaleza a Natal, percorrido entre os dias 01 a 10 de setembro de 2007.


Fabrício Lacerda é publicitário, tendo percorrido de Fortaleza a Florianópolis com um teatro de fantoches ensinando a crianças ribeirinhas a importância de higiene bucal, é também coordenador de eco atividades do Grupo Peregrinos - Esportes de Aventura.

Um comentário:

Rodrigo disse...

imagino como deve ser viajar de bike... por enquanto so imagino, ja que logo mais espero ta fazendo a minha primeira ciclo trip, acredito que o mais alucinante deva ser a sensação de estar ali, no presente, sem pensar em nada, apenas pedalar e sentir-se pleno... no próximo comentário, espero dizer não o que imagino, mas o que senti